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sábado, 13 de março de 2010

O TEXTO NARRATIVO-DESCRITIVO

Turmas do 1 ano

Leia o texto a seguir:

Vou contar uma história, disse ele, e vocês façam a composição. Mas usando as palavras de vocês. Quem for acabando não precisa esperar pela sineta, já pode ir para o recreio.
O que ele contou: um homem muito pobre sonhara que descobrira um tesouro e ficara muito rico; acordando, arrumara sua trouxa, saíra em busca do tesouro; andara o mundo inteiro e continuava sem achar o tesouro; cansado, voltara para a sua pobre, pobre casinha; e como não tinha o que comer, começara a plantar no seu pobre quintal; tanto plantara, tanto colhera, tanto começara a vender que terminara ficando muito rico.
Eram quase dez horas da manhã, em breve soaria a sineta do recreio. Aquele meu colégio, alugado dentro de um dos parques da cidade, tinha o maior campo de recreio que já vi. Era tão bonito para mim como seria para um esquilo ou um cavalo. Tinha árvores espalhadas, longas descidas e subidas e estendida relva. Não acabava nunca. Tudo ali era longe e grande, feito para pernas compridas de menina, com lugar para montes de tijolo e madeira de origem ignorada, para moitas de azedas begônias que nós comíamos, para sol e sombras onde as abelhas faziam mel. Lá cabia um ar livre imenso. E tudo fora vivido por nós: já tínhamos rolado de cada declive, intensamente cochichado atrás de cada monte de tijolo, comido de várias flores e em todos os troncos havíamos a canivete gravado datas, doces nomes feios e corações transpassados por flechas; meninos e meninas ali faziam o seu mel.
Eu estava no fim da composição e o cheiro das sombras escondidas já me chamava. Apressei-me. Como eu só sabia "usar minhas próprias palavras", escrever era simples. Apressava-me também o desejo de ser a primeira a atravessar a sala -- o professor terminara por me isolar em quarentena na última carteira -- e entregar-lhe insolente a composição, demonstrando-lhe assim minha rapidez, qualidade que me parecia essencial para se viver e que, eu tinha certeza, o professor só podia admirar.
Entreguei-lhe o caderno e ele o recebeu sem ao menos me olhar. Melindrada, sem um elogio pela minha velocidade, saí pulando para o grande parque.

(Clarice Lispector. *A legião estrangeira*. São Paulo, Ática, 1977. p. 15-6.)

Observe a técnica de composição do texto de Clarice Lispector. Nota-se ora o predomínio da descrição, ora o predomínio da narrativa.
Ao contar esta história, a autora utilizou a descrição para apresentar o espaço onde se desenrolaram os fatos da narrativa e para fornecer ao leitor os traços físicos e psicológicos das personagens. Assim, produziu um texto em que narrativa e descrição se mesclam. O texto é *narrativo-descritivo*, portanto.

*Proposta de redação*

Escreva um texto narrativo-descritivo abordando um aspecto qualquer do relacionamento entre jovens. Narre em terceira pessoa. Descreva as personagens e o ambiente em que se desenrola a história. Procure aproveitar as discussões realizadas em classe para compor as situações, os conflitos e os desafios vividos por suas personagens. Torne a sua narração ativa e interessante criando diálogos bem vivos. Dê um título sugestivo a seu texto.

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