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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

CRÍTICAS AO NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO

1.Acordo ortográfico
1.1 - Primeiros passos
Desde muito tempo, Brasil e Portugal tentam aperfeiçoar e unificar novamente as regras ortográficas, que evoluíram de forma diferente ao longo dos anos.
Uma das propostas mais radicais foi a simplificação da língua através da representação de cada fonema (som) por apenas um único grafema (forma gráfica - letra). Assim, o fonema /s/, por exemplo, seria representado apenas pela letra S, e não mais por C, Ç, X, SS, XC e SC. Assim, as palavras exceção, cenoura e crescer, com o fonema /s/, passariam a ser grafadas "esesão", "senoura" e "creser". As palavras casa, exato e portuguesa, com o fonema /z/, passariam a ser grafadas "caza", "ezato" e "portugueza".
Essa simplificação seria até prática, mas linguistas chegaram à conclusão que isso traria muitos problemas na diferenciação das palavras, o que dificultaria bastante a compreensão dos textos. Seria impossível, por exemplo, distinguir sessão, seção e cessão, pois todas seriam grafadas "sesão".
Assim, descartou-se um critério exclusivamente fonético, e as sucessivas reformas ortográficas ocorridas no Brasil e em Portugal passaram a adotar critérios mistos, que tinham características fonéticas mas também consideravam até certo ponto a etimologia da palavra (sua origem gráfica). Entretanto, a evolução diferenciada no Brasil e em Portugal acabou gerando duas línguas portuguesas:
# o Português de Portugal, usando em Portugal e nos países africanos de língua portuguesa, e
# o Português do Brasil, que é adotado apenas no Brasil.
Em maio de 1986, os representantes dos 7 países que usam o português como língua oficial se reuniram no Rio de Janeiro, na Academia Brasileira de Letras, dando início aos trabalhos que tinham com o objetivo criar uma ortografia unificada para a Língua Portuguesa. Desse encontro resultaram as bases do Novo Acordo da Língua Portuguesa, cujo texto foi publicado no mesmo ano.
Entretanto, foram necessárias algumas alterações e correções, que deram origem ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que foi assinado em Lisboa, Portugal, no dia 16 de dezembro de 1990, não só por representantes de Brasil e Portugal, mas também de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

1.2 - Motivação e Objetivos
Um dos exemplos que motivaram a unificação da grafia da língua portuguesa, e que foi bastante citado à época das negociações, foi caso da língua espanhola (ou castelhano) que, apesar das diferenças de pronúncia e vocabulário entre Espanha e os países da América, é regida por uma só norma ortográfica.
A língua portuguesa, que, com cerca de 210 milhões de falantes, é a 5ª língua mais falada no mundo, e a 3ª no ocidente, era dividida por duas grafias oficiais diferentes, que davam origem ao Português de Portugal, usada em Portugal e nos demais países de língua portuguesa, e ao Português do Brasil, exclusividade do Brasil.A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) afirma que essa dupla grafia acaba limitando a dinâmica do idioma, pois dificulta não só a divulgação de informações e as relações comerciais, como também a difusão cultural entre os países de língua portuguesa, enfraquecendo a língua.
Além disso, no plano internacional, a falta de unidade gráfica também enfraquece o prestígio do idioma, já que ele acaba sendo tratado como duas línguas diferentes, exigindo traduções diferentes para Brasil e Portugal. Isso dificultaria a pretensão de se incluir a língua portuguesa como um dos idiomas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU).
Assim, o objetivo é tornar a língua portuguesa mais forte, facilitando o intercâmbio cultural entre os países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e aumentando seu prestígio internacional, o que possibilitaria sua entrada no rol dos idiomas oficiais da ONU.

1.3 - Acordo frustrado
Segundo o Acordo Ortográfico original, as mudanças entrariam em vigor no dia 1º de Janeiro de 1994, quando todos os países envolvidos já deveriam ter ratificado a reforma.Entretanto, apenas Brasil, Portugal e Cabo Verde ratificaram o acordo a tempo e, assim, a reforma não entrou em vigor.

1.4 - Protocolos Modificativos
A partir daí, o acordo passou por alguns protocolos modificativos.O primeiro, de 1998, acabou com o prazo para ratificação. Entretanto, manteve a necessidade de aprovação por todos os países de língua portuguesa para que entrasse em vigor.Em 2004, um novo protocolo modificativo foi assinado. Dessa vez, foi estabelecido que bastaria a ratificação de três dos Estados signatários para sua entrada em vigor. Além disso, foi permitida a adesão de Timor-Leste, que só conseguiu sua independência total em 2002. Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe o ratificaram, o que possibilitou que a reforma fosse oficializada em 1º de Janeiro de 2007.

1.5 - Sem Portugal não dá
Com a ratificação de Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, as novas normas já poderiam entrar em vigor nesses três países. Entretanto, esses países consideraram fundamental que Portugal aderisse à reforma para que as mudanças pudessem ser implementadas com sucesso e o acordo realmente cumprisse seus objetivos. Assim, depois de muitos adiamentos e de muitas críticas e polêmicas, Portugal acabou ratificando o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa em 16 de maio de 2008, sendo o acordo sancionado pelo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva em julho do mesmo ano.

1.6 - Estatísticas
O Novo Acordo Ortográfico acarreta mudanças na grafia de apenas 0,5% das palavras do vocabulário usado no Brasil.
Entretanto, em Portugal, esse percentual sobe para cerca de 1,6% das palavras usadas, o que representa mais que o triplo de alterações. E isso explica a maior resistência dos portugueses na adoção da nova ortografia, que, para alguns, é um mero "abrasileiramento" da língua.
O Novo Acordo Ortográfico resolve 98% das diferenças de grafia entre Brasil e Portugal. Para os outros 2%, foi criado o critério da grafia dupla ou múltipla, pelo qual se pode optar por uma ou outra grafia facultativamente.

1.7 - Critérios
As bases da unificação da grafia se basearam em grande parte no critério fonético. Assim, a grafia das palavras foi modificada tentando aproximá-las da língua falada. Um exemplo claro disso é a abolição das consoantes c e p mudas no português de Portugal, como nas palavras acção, adopção, óptima, director e baptizar que passam a ser grafadas ação, adoção, ótima, diretor e batizar, o que já havia acontecido no Brasil desde a reforma de 1943.
1.8 - Mudanças no Português do Brasil
As principais mudanças para o português escrito no Brasil são a inclusão das letras K, W e Y no alfabeto, a abolição do trema, a supressão de alguns acentos nas palavras paroxítonas e ainda a alteração nas regras de uso do hífen.

1.9 - Vigência do Acordo Ortográfico
Desde 1º de janeiro de 2009 o acordo ortográfico já está vigente no Brasil. Até o final de 2012, viveremos um período de transição, no qual será possível optar pela nova grafia ou pelo uso das regras anteriores. A partir de 1º de janeiro de 2013 apenas a nova grafia, imposta pelo Novo Acordo Ortográfico, será aceita. Em Portugal, só se sabe que o período de transição será de 6 anos, 2 anos maior que o do Brasil. Entretanto, até a data de lançamento destas informações, ainda não havia uma data definida para sua entrada em vigor.

Críticas à reforma ortográfica – Novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa Tatiane Santana

O Novo Acordo Ortográfico tem gerado muita polêmica. Saiba o que pensam os críticos e conheça seus argumentos.
1-Críticas à reforma ortográfica
1.1 - Polêmica
O Novo Acordo Ortográfico não alcançou consenso entre os brasileiros e muito menos entre os portugueses. Seu texto e sua aprovação têm sido alvo de diversas críticas e enfrentado a oposição de vários escritores, linguistas, políticos, deputados e profissionais da língua.

1.2 - Ortografia Etimológica
Alguns linguistas portugueses defendem a ortografia etimológica, que leva em consideração a origem da palavra, não aceitando a reforma pelo critério fonético, que, segundo eles, cortam o elo entre os praticantes atuais da língua portuguesa e os manuscritos deixados pelos seus antepassados.Outros simplesmente resistem à mudança, talvez pelo medo de ter que reaprender, ou até por motivos emocionais em relação à grafia atual das palavras.
Esse sentimento de resistência às mudanças ortográficas já foi registrado em reformas anteriores, como mostram os trechos seguintes, escritos às vésperas das últimas reformas...
Imaginem esta palavra phase, escripta assim: fase. Não nos parece uma palavra, parece-nos um esqueleto (...) Affligimo-nos extraordinariamente, quando pensamos que haveriamos de ser obrigados a escrever assim! Alexandre Fontes (1911)
Na palavra lagryma, (...) a forma da y é lacrymal; estabelece (...) a harmonia entre a sua expressão gráfica ou plástica e a sua expressão psicológica; substituindo-lhe o y pelo i é ofender as regras da Estética. Na palavra abysmo, é a forma do y que lhe dá profundidade, escuridão, mistério... Escrevê-la com i latino é fechar a boca do abysmo, é transformá-lo numa superfície banal. Teixeira de Pascoaes

1.3 - Reforma tímida
Enquanto uns têm dificuldades em aceitar as mudanças propostas pela reforma, outros acham que ela foi tímida demais, e até insuficiente para cumprir seus objetivos, já que muitas palavras continuarão apresentando possíveis variantes ortográficas.
O professor de português Pasquale Cipro Neto afirma que "é uma reforma meia-sola, que não unifica a escrita de fato", enquanto que o escritor João Ubaldo Ribeiro diz que "é uma reforma tímida, que não faz grandes inovações"
Muitos críticos afirmam que o acordo tenta resolver um problema que, na realidade, não existe. Eles defendem que as variações na grafia do Português do Brasil e Português de Portugal não atrapalham a leitura dos textos.O sucesso de vendas no Brasil de obras de escritores portugueses como José Saramago e Miguel Sousa Tavares, cujos livros usam a grafia lusitana do português por exigência dos autores, seria um indício de que não é a falta de uma unificação gráfica que diminui o intercâmbio literário na língua portuguesa.
Na verdade, as dificuldades de compreensão escrita, quando acontecem, decorrem das diferenças semânticas, ou seja, do sentido das palavras, e até de construções gramaticais que são diferentes no Brasil e em Portugal.Se você já tentou ler algum texto em português de Portugal, mesmo que seja apenas um simples manual de algum equipamento eletrônico, vai entender mais facilmente do que estamos falando.E a simples adoção de uma ortografia comum não resolve esse tipo de problema.
Além disso, as dificuldades de compreensão são ainda mais relevantes na comunicação oral. Só para se ter uma ideia, já se cogitou de colocar legendas nas novelas brasileiras que são exibidas em Portugal, tamanha é a dificuldade de compreensão.E olha que, como a programação televisiva brasileira acaba chegando lá com mais intensidade, principalmente por causa das novelas, eles acabam tendo muito mais facilidade de entender os brasileiros do que os brasileiros de entender os portugueses.O fato é que a dificuldade na comunicação oral vai continuar, apesar do acordo ortográfico, que nessa área não tem nenhuma influência.

1.4 - Regras sobre o uso do hífen
Outra crítica comum em relação ao Novo Acordo Ortográfico diz respeito às novas regras que regem o uso do hífen.
Segundo os críticos, muitos de seus usos ainda são obscuros. É que o acordo ortográfico não fala explicitamente de todos os prefixos. Um dos problemas é o prefixo "re", de reescrever e reeditar. Palavras como girassol e passatempo não tinham hífen, enquanto porta-retrato, guarda-louça e tira-teima possuíam o hífen. O problema é que, apenas baseando-se no texto atual, não é possível concluir se essas palavras terão hífen ou não. O acordo se limita a dizer que o hífen desaparece quando se perde a noção da composição de outras duas palavras, mas isso é muito subjetivo.
Sobre a crítica, Godofredo de Oliveira Neto, presidente do conselho diretor do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), órgão da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), esclarece que a definição de diversos usos do hífen só vai acontecer com a criação de um vocabulário ortográfico oficial. Esse seria o próximo passo da reforma que unifica a escrita do português nos países lusófonos.

1.5 - Custos da reforma ortográfica
Outros críticos apontam para os altos custos da unificação. Estes custos incluem : a revisão ortográfica das obras já existentes; a substituição de dicionários, gramáticas e livros escolares, que ficarão obsoletos instantaneamente, e ainda a reaprendizagem das regras ortográficas pela grande maioria da população que já está acostumada com as regras antigas.

Por tudo isso, vários profissionais da língua portuguesa se pronunciaram contra a adoção das novas regras... Vamos enterrar dinheiro em uma mudança que não trará efeitos positivos.
Pasquale Cipro Neto

Essa idéia messiânica, utópica de que a unificação vai transformar o português em uma língua de relações internacionais é uma tolice. Professor Cláudio Moreno

1.6 - Interesses econômicos
Mas os custos da reforma não são os únicos interesses econômicos envolvidos...Algumas editoras portuguesas afirmam que o acordo é "um facilitismo para as editoras brasileiras entrarem nos países africanos", ameaçando sua atuação nesses países.As mais resistentes chegaram a afirmar que não irão adotar em seus livros as alterações previstas pelo acordo.

1.7 - Grafias múltiplas
Um dos pontos mais criticados no texto do Novo Ortográfico, principalmente pelos linguistas portugueses, é o das grafias múltiplas.
Para abrigar as diferenças fonéticas (diferença de pronúncia) entre Portugal e Brasil, o Acordo Ortográfico prevê vários casos de palavras que podem ter duas ou mais grafias facultativas. É a dupla grafia ou grafia múltipla. Veja alguns exemplos:
 fenómeno/fenômeno,
 António/Antônio,
 aritmética/arimética,
 amnistia/anistia,
 amígdalas/amídalas,
 dactiloscopia/datiloscopia,
 eletrónica/eletrônica,
 súbdito/súdito,
 visitamos (ontem) / visitámos (ontem),
 recepção/receção,
 espectador/espetador,
 intersecção (de conjuntos) / interseção (de conjuntos),
 (o) cacto (secou) / (o) cato (secou),
 (o rio Tejo) desagua (em Lisboa) / (o Tejo) deságua (em Lisboa),
 (a Polícia) averigua (o crime) / (a Polícia) averígua (o crime)
O deputado português Vasco Graça Moura argumenta que o reconhecimento oficial de grafias duplas e múltiplas enfraquece seriamente a unidade da língua portuguesa escrita e "vai mesmo contra o conceito de ortografia".
Ele continua a crítica ao acordo dizendo que as facultatividades permitem "pôr num saco todos os casos duvidosos, a pretexto de que pode haver diferenças entre a pronúncia portuguesa e brasileira, abrindo inaceitavelmente a porta a todas as diferenças de grafia e mesmo, no limite, à opção individual por determinada maneira de escrever (...) chegando ao ponto da lei do menor esforço e do facilitismo".
Veja a opinião de linguistas portugueses sobre o assunto...
... os negociadores do Acordo autorizam duplas ou múltiplas grafias no interior de cada país, com base num critério da pronúncia, que em nenhuma língua pode ser tomado como propriedade identificadora dum sistema linguístico e da(s) sua(s) respectiva(s) norma(s) nacionais, mas sempre e apenas de uma sua variedade dialectal ou social.
Inês Duarte, professora catedrática de Linguística da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2005)
O Acordo em análise admite grafias facultativas para a língua portuguesa em toda a sua extensão, sem quaisquer restrições além da existência (onde quer que seja) de uma pronúncia culta que as sancione. Segundo a sua letra (...), dois alunos portugueses, em Portugal (ou brasileiros, no Brasil, etc.), sentados lado a lado, ou dois professores em salas contíguas seriam livres de usar a seu bel-prazer as grafias alternativas. Em última análise, é deixada ao livre arbítrio de cada cidadão a escolha da grafia, pondo-se em causa a função da língua escrita como fator de coesão social.
João Andrade Peres, professor catedrático de Linguística da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2008)
O fato de acabar por nem sequer se revelar uma versão fraca de unificação ortográfica, como se pretendia, mas antes uma versão permissiva, erigindo o princípio da facultatividade excessiva, o qual vai contra o próprio conceito normativo de ortografia, originando nomeadamente a possibilidade do uso de duplas grafias dentro do mesmo país, isto é, abrindo a porta à heterografia.
Isabel Pires de Lima, ex-ministra da Cultura do governo português, professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e deputada do Partido Socialista, apontando o que entende ser uma das principais fragilidades do Acordo Ortográfico O estabelecimento generalizado da grafia dupla nos domínios da acentuação, das consoantes mudas e da maiusculização, minará a estabilidade do ensino da Língua Portuguesa (ferramenta que abre a porta a todas as outras disciplinas) e porá em causa a integridade do uso e da difusão internacional da língua portuguesa, valores que a Constituição consagra (Art.º 9.º. al. f). A possibilidade de se escrever de forma alternativa uma quantidade enorme de palavras e de expressões complexas deixa ao arbítrio de cada utilizador individual a estrutura da "sua" ortografia pessoal - imagine-se o que seria cada um de nós poder pôr em vigor a sua versão personalizada do Código de Processo Penal ou do Código da Estrada!
António Emiliano, professor de Linguística da Universidade Nova de Lisboa

1.8 - Vigência do Acordo Ortográfico
Apesar de todas as críticas, o acordo ortográfico já está vigendo no Brasil. Desde 1º de janeiro de 2009 já se pode usar as novas regras. Haverá um período de transição até o final de 2012. Durante esse tempo, será possível optar pela nova grafia ou pelo uso das regras anteriores. A partir de 1º de janeiro de 2013 apenas a nova grafia, imposta pelo Novo Acordo Ortográfico, será aceita.
Em Portugal, até o momento, só se sabia que o período de transição seria de 6 anos, 2 anos maior que o do Brasil. Entretanto, ainda não havia data definida para sua entrada em vigor.

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